Foi durante uma viagem ao Brasil com a companhia de dança alemã Tanztheater Wuppertal que a coreógrafa Pina Bausch colecionou inspirações para criar o espetáculo Água — passando por São Paulo e por Salvador, ela se atentou a elementos da religiosidade, da natureza e da sociedade brasileira para compor a peça. Todos os bastidores dessa história estão no novo livro do crítico de arte Fabio Cypriano, a ser lançado na próxima quarta-feira, 20 de março, em São Paulo.
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O título é fruto da pesquisa de doutorado de Cypriano, que acompanhou o processo de produção do espetáculo na virada dos anos 1990 para os 2000. “O livro é uma versão mais acessível dessa tese para o grande público”, explica ele. “Descobri na pesquisa que o Brasil, desde o século 17, recebeu muitos artistas, especialmente alemães, que aqui retrataram as primeiras imagens da América, quando da invasão holandesa em Recife. O trabalho parte dessa história para chegar até a peça Água, de 2001, que é a ‘peça brasileira’ da Pina.”
Acompanhando os textos do crítico, o livro traz imagens do fotógrafo belga Maarten Vanden Abeele, espécie de groupie de Pina Bausch que registrou vários de seus espetáculos. “Ele tinha intimidade com a Pina e sua obra. Por isso, escolhê-lo para o livro foi fácil, já que era mesmo essencial ter uma amplo registro de imagens que desse ideia do vocabulário da coreógrafa, o que acho que conseguimos fazer”, diz Cypriano.
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Segundo ele, apesar da complexidade das cenas criadas por Pina, é possível identificar no espetáculo vários traços do Brasil. “Ela fala muito da religiosidade, das disparidades sociais, da alegria e da natureza exuberante do país, mas tudo sem ser literal”, diz. “É também uma peça com muitas ações coletivas, valorizando o conjunto, e não ações individuais. É ainda um retrato otimista do começo do século 21, acho que hoje seria muito diferente.”
A experiência coletiva e a inspiração em lugares por onde passava em turnê são uma constante no trabalho de Pina Bausch. “O que sempre me fascina na obra de Pina é o que acabei definindo como seus dois eixos: o vertical, de se aprofundar na subjetividade dos bailarinos, e o horizontal, de dialogar com o contexto, de não falar apenas da dança”, diz Cypriano.
Para o crítico, a essência da linguagem da coreógrafa está menos na forma do que no conteúdo. “A técnica não é de fato o mais importante, mas apresentar uma dança que fale sobre o que nos sensibiliza, tanto para o bem, como para o mal. Foi, afinal, trazer total liberdade ao palco.” Sesi-SP e Edições Sesc São Paulo, 176 págs., 120 reais.
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